«A paixão pela apresentação começou desde muito novo», afirma o ator Ruy de Carvalho em entrevista ao À Descoberta online

 

  • Entrevista realizada através do Facebook pelos alunos Ana Fernandes, Diogo Gonçalves, Gonçalo Beato e Marlene Barreira, 8º A

 

Ruy de Carvalho nasceu em Lisboa em 1927. Sempre gostou de representar, sobretudo pelo facto de ter tido dois irmãos atores. Começou a representar aos 15 anos, até à atualidade não parou.

 

À Descoberta: Quando descobriu que queria ser ator?

Ruy de Carvalho: Muito novo. Por volta dos 15/16 anos. Mas eu tinha dois irmãos atores, o que me facilitou muito o acesso à profissão.

D: Ser ator foi sempre o que quis fazer na sua vida, ou desejou, em determinado momento, fazer outra coisa?

R. C.: Sempre quis ser ator. É uma paixão, mas também queria ter sido médico.

           

D: A sua primeira experiência foi em teatro amador ou profissional?

R. C.: A minha primeira experiência foi no teatro amador, ou antes para jovens, já que foi nos cursos de teatro que a «Mocidade Portuguesa» tinha para a juventude.

           

D: Qual a personagem que o senhor mais gostou de fazer até hoje, e porquê?

R. C: A figura de um cego, na peça «Render dos Heróis» de José Cardoso Pires. Era cego, ou não era cego quando queria. Depois fiz muitos outros papéis que me marcaram muito. O «Rei Gar» a figura do Próspero na peça «Tempestade» de William Shakespeare, sei lá… foram centenas de papéis.

           

D: Como foi a sua experiência na série «Inspetor Max», que ainda hoje é transmitida em televisão?

R. C: Foi muito boa. Foi uma história diferente, que para além de pessoas ainda tinha cães, que eu adoro.

           

D: Identificou-se com a personagem «João», de «Inspetor Max»?

R. C: Como gostava de ter sido médico e também sou avô, acho que sim.

 D: O Ruy de Carvalho é conhecido do grande público, sobretudo, por causa da sua participação em telenovelas e em séries na TV. Gosta mais de fazer teatros ou séries televisivas? Porquê?

R. C: Gosto mais de teatro, mas acima de tudo o que gosto é de representar. Sou ator há 73 anos e muitas pessoas que hoje têm 50 ou 60 viram muito teatro comigo. Por decisão de quem mandava na altura, eu fui o escolhido para começar o teatro na televisão, o que fiz com a peça de Gil Vicente «Monólogo do Vaqueiro» ou «Auto da Visitação».

D: Lembra-se muito dos seus tempos de estudante? Tem algum episódio de que ainda se lembre?

R. C: Eu fui um bom estudante quando fiz aquilo de que gostava, estudar a arte de representar. O resto fui cumprindo. Não tenho grandes memórias, mas fiquei com grandes amigos, que infelizmente já partiram quase todos.

D: Toda a gente nos diz que o nosso futuro passa pela escola. Este também foi o seu caso?

R. C: Sem dúvida. Sem conhecimento, sem bases não podemos nunca evoluir. Estudar é parte daquilo que seremos um dia … aquilo que quisermos ser.

D: É um ator muito premiado, com três globos de ouro ganhos. O que significa para um ator receber tantos prémios?

R. C: É muito bom ser premiado. É o que nos diz que o nosso país e a sociedade gostaram do nosso trabalho. Mas melhor são os aplausos e os abraços do público, esses nunca se esquecem.

           

D: Qual o conselho que o senhor daria a alguém, especialmente a adolescentes, que querem muito ser atores?

R. C: É uma profissão de muito trabalho. Se amarem o teatro preparem-se para trabalhar muito. Mas vale a pena.

Entrevista ao cozinheiro Luís Portugal

 

 

Tem 43 anos, vive em Bragança, considera-se uma «ave rara» na cozinha e acredita que a melhor cozinha se faz com os nossos produtos tradicionais. A sua paixão pela culinária já vem desde criança, e o Masterchef serviu para divulgar Trás-os-Montes e os seus produtos de excelência. O Clube de Jornalismo da Escola aproveitou um Show Cooking que este grande cozinheiro transmontano veio fazer a Vinhais, no âmbito da Feira da Castanha, e fez-lhe uma entrevista para o conhecermos melhor…

 

Entrevista realizada por: Jorge Ventura, Ana Rita, Ana Sofia e Ana Vitória, do 8ºA.

 

Clube de Jornalismo: Como é que começou a sua ligação à cozinha?

 

Luís Portugal: Olhem, de muito novinho eu nunca gostei de comer muito, mas gostei sempre comer bem. E então, muito novinho, apreciava a minha tia a fazer comida com muita calma e aquilo sabia muito bem e eu comia pouquinho, mas comia. E depois, sempre que via um prato, uma coisa que eu gostava, eu chegava a casa e queria fazer igual, e depois queria fazer melhor que aquele. Foi assim, de uma forma perfeitamente natural, nunca nada de muito comprometido, mas sempre num ambiente muito tranquilo. Acho que a cozinha é um estado de espírito, é aquilo que nos diz que nós estamos bem, ou então que não estamos bem. É por isso que eu  não consigo nunca fazer um prato igual, depende muito do meu ambiente, de como eu me sinto.

C. J.: Qual foi o primeiro prato que cozinhou?

L. P.: Não tenho muito a certeza, mas assim a sério, acho que foi o bacalhau.

C.J.: Dizem que há mil e uma maneiras de fazer bacalhau. Para si, qual é a mais especial?

L. P.: Há mil e uma maneiras de fazer bacalhau e cada fez há mais. Há um bacalhau que eu gosto muito, aliás, eu gosto sempre muito das comidas na brasa… bacalhau na brasa abafado com couve com ovo cozido, broa, alho, pimentão doce, e muito azeite.

C. J.: Quais são os pratos que prefere cozinhar?

L. P.: Não tenho preferências. Eu gosto muito de cozinhar… eu sou apaixonado pela cozinha. Depende muito do dia, mas, acima de tudo, gosto de cozinhar coisas da época. Nesta altura gosto de cozinhar castanhas, cogumelos… depende muito em que altura estamos e onde eu estiver. Se estou à beira do mar gosto muito de fazer peixe. Cheguei há pouco tempo de Paris, de uma das maiores feiras de gastronomia e lá queria fazer trunfas e caviar.

C. J.: Quando cozinha cogumelos também utiliza cogumelos apanhados por si, ou prefere não arriscar?

L. P.: Não arrisco. Ainda não tive o tempo e a disponibilidade necessários para conseguir aprender à séria. E nos cogumelos ou outros alimentos temos duas hipóteses: ou sabemos exatamente o que é que estamos a comer ou então não comemos. Não vale a pena correr riscos.

C. J.: Tem algum prato da sua autoria?

L.P.: Tenho vários. Ainda hoje fiz um prato da minha autoria. Fiz pela primeira vez um puré com vinho, com crocante de castanha. Também nunca tinha feito um belo porco bísaro com mel e ervas de Provence só entalado em azeite. Eu acho que cada prato que eu faço é um prato da minha autoria.

C. J.: Qual é a sua opinião sobre a influência do “fast food” na alimentação das pessoas?

L. P.: É uma pergunta muito difícil para eu responder… Mas eu estou a ensinar - e fico já disponibilizado para fazer na vossa escola também -  as cantinas, já fiz isso em várias escolas, a cozinharem legumes. Os legumes é uma coisa que as crianças adoram, desde que estejam bem cozinhados, no tempo certo, se lhes conseguirmos dar crocante e sabor. Quando houver um “fast food” de castanha e porco bísaro, aí sim,  eu acho que podemos e devemos comer…

C. J.: O que o levou a concorrer ao Masterchef?

L. P.: Eu fui enganado. Foi a minha filha que me inscreveu. Eu nunca tinha visto um programa Masterchef, nem sabia sequer como é que eram as provas, mas, depois de estar lá, com uma grande paixão pela cozinha e, acima de tudo, com uma grande determinação, tudo se consegue. Eu falei 72 vezes em Vinhais. Falei muitas vezes em Trás-os-Montes, e isso foi aquilo pelo que eu lutei e que pensei fazer. Trás-os-Montes é uma região onde existem os produtos mais excelentes do mundo, nos nossos 9 meses de inverno e dos 3 de inferno. Acima de tudo, nós temos também de explicar uma coisa às pessoas das nossas terras que é: devemos pensar em vender as coisas que fazemos nas nossas aldeias muito bem vendidas e a preços muito bons, que nos permitam continuar a fazer coisas de muita qualidade, porque os nossos produtos têm muita qualidade! E, isto, deve ser o princípio do nosso caminho.

C. J.: O que aprendeu com o programa?

L. P.: Aprendi muita coisa. Até aprendi a viver mais em comunidade… aprendi a respeitar e aprendi a cozinhar muito, muito, muito, porque estive 3 meses a cozinhar todos os dias, a ler sobre cozinha todos os dias.

C. J.: Acha que este tipo de programas contribuem para a preservação da cozinha nacional?

L. P.: Não tenho dúvida nenhuma! Enquanto houver gente como o Luís Portugal, que acha que a cozinha típica, a cozinha do pote, também pode ser uma cozinha gourmet, e uma cozinha de qualidade! Eu vou sair daqui agora à pressa e vou vos dar uma novidade, da qual eu também estou muito orgulhoso: vou ser o primeiro não estrela Michelin a fazer um jantar na rota das estrelas Michelin e vou agora sair para Amarante, para a Casa da Calçada,  cozinhar ao pé de 9 ou 10 estrelas Michelin.

C. J.: As outras culturas influenciam o modo como cozinha?

L. P.: Claro que sim. Influenciam sempre, mas há um principio que nós temos que ter: podemos ir para a melhor escola de cozinha do mundo, mas se não sabemos fazer um refogado e como temperamos umas batatas e fazer uma sopa, nunca vamos ser bons cozinheiros.

C. J.: A castanha é uma companheira de trabalho?

L. P.: A castanha é excelente. A castanha dá-nos tudo, dá-nos sopa, puré, castanha frita, castanha assada… e é um excelente acompanhamento para todos os pratos de carne. Já para não falar da doçaria, que é fantástica, a farinha de castanha, por exemplo. A castanha é muito polivalente.

C. J.: Nós lemos uma entrevista sua, onde o chefe se considera uma “ave rara”, pode explicar porquê?

L. P.: Porque sou assim! Olha, precisamente por isto. Por esta forma de eu ser aventureiro como uma “ave rara” e que chegava aqui e pegava nas castanhas misturava-as com vinho de Vinhais e pensava fazer um puré. Nunca tinha feito.

C. J.: Ou seja, é um criativo?

L. P.: Sim, tem que ser muita criatividade na cozinha.

C. J.: E improviso também?

L. P.: Sempre! Aliás, nós temos que improvisar sempre, eu cheguei aqui e não tinha condições, tive que improvisar…

C. J.: Muito obrigada pela sua disponibilidade e colaboração.

L.P.: O prazer foi todo meu. Muito obrigada, também.

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